Equipe volante do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) garante acesso a serviços e benefícios sociais para 350 famílias das zonas rural e costeira de Parati. Iniciativa foi criada há seis anos pela Secretaria Municipal de Promoção Social. Trabalho com comunidades inclui orientações sobre obtenção de segunda via de documentos, encaminhamentos para consultas médicas e instruções sobre o recebimento de benefícios
Bruno Spada/MDS
Izabela e Ana Paula são responsáveis pelo atendimento das comunidades da região de Parati
Brasília, 13 – O município fluminense de Parati ficou famoso pelo patrimônio histórico e pela feira literária anual, que reúne celebridades nacionais e internacionais. O que poucos sabem é que, do outro lado da ilha, dezenas de famílias, em seis comunidades, vivem sem saneamento básico e energia elétrica. Muitas moram em casas sem banheiro, dormem em esteiras no chão batido e alimentam-se basicamente de banana, farinha e peixe, frutos da produção local.
São cerca de 350 famílias, com renda mensal de até um salário mínimo, que têm nas políticas sociais o principal apoio para a sobrevivência. Semanalmente, elas recebem a visita de uma equipe volante do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), iniciativa criada há seis anos pela Secretaria Municipal de Promoção Social para fazer chegar a assistência até essas pessoas.
Toda quarta-feira, a assistente social Izabela Dantas, coordenadora da equipe volante do Cras, enfrenta até 45 minutos a bordo de uma pequena lancha para visitar uma das seis comunidades das zonas rural e costeira de Parati: Pouso da Cajaíba, Calhaus, Saco Claro, Saco da Sardinha, Joatinga e Condado. Já foi pior: “Antes e gente ia num barco com bancos sem estofamento e sem cobertura. Levávamos até duas horas para chegar aos locais mais distantes”, recorda.
Junto com Izabela, vão uma psicóloga e um responsável pelo Programa Bolsa Família. Eles passam o dia em cada comunidade, conversando com os moradores para identificar demandas e providenciar o atendimento.
Sobrevivência - “Nossa principal percepção é que muita gente sofre por desconhecer a ajuda que pode receber do governo”, avalia a assistente social. “Uma simples entrevista pode resolver inúmeros problemas”, diz Izabela. Para chegar ao centro de Parati, onde estão os equipamentos públicos de assistência, os moradores da zona costeira que não tenham barco próprio gastam até R$ 20 com transporte, o que representa um peso grande para uma família com renda de um salário mínimo. Daí a importância de que a equipe vá até eles.
Nas comunidades, o trabalho inclui orientações sobre como obter segunda via de documentos, encaminhamentos para consultas médicas e instruções sobre o recebimento de benefícios como o Bolsa Família. A equipe também distribui colchões, alimentos, material de construção e outros utensílios, como filtros.
Na opinião de Izabela, essa distribuição é uma ajuda fundamental para a sobrevivência das famílias. “Para essas pessoas, o fornecimento de material de construção é importante, porque muitas não têm instalações sanitárias em casa, o que contribui para a ocorrência de doenças”, exemplifica. “Até o fornecimento de cestas básicas tem valor, porque a alimentação do pessoal da costeira é composta basicamente por banana, farinha e peixe. A cesta básica chega com outros nutrientes, outros ingredientes para essas famílias”, justifica.
Artesanato – Ao longo dos últimos seis anos, projetos de geração de renda têm ajudado a melhorar as condições de vida das famílias e provocado maior mobilização da comunidade, em especial das mulheres, que são, em sua maioria, donas de casa. Elas são o principal público das ações. A Secretaria de Promoção Social do município contratou duas instrutoras para dar aulas de artesanato.
Uma das instrutoras é Ana Paula Nascimento, moradora da zona costeira, que, aos 24 anos, ensina outras mulheres a fazer colchas de patchwork, móbiles e acessórios com bordados, miçangas, fuxico e outras técnicas de costura. Sem energia elétrica, as alunas têm que fazer tudo a mão, o que demanda mais tempo para a produção, mas, por outro lado, valoriza o produto aos olhos dos consumidores.
Com o trabalho, diz Ana Paula, além de aumentar a renda familiar, as mulheres aprendem o valor do próprio esforço e da união para que toda a comunidade progrida. “Para fazer uma colcha de retalhos sozinha, sem máquina, uma mulher pode levar até dois meses. Em grupo, elas acabam o trabalho em 10 ou 15 dias e todas dividem o valor da venda”, conta.
Na loja de artesanato da Casa da Cultura, no centro histórico de Parati, uma colcha feita pelas mulheres do Pouso ou de Calhaus pode ser vendida por até R$ 750, a depender da complexidade do trabalho. Um móbile ou uma necessaire bordada a mão saem por cerca de R$ 25. Recentemente, as mulheres da costeira aprenderam também a fazer bijuterias, como broches e colares, com escamas de peixe. Na próxima Festa Literária Internacional de Parati (Flip), os produtos estarão expostos numa barraca especial do Cras.
A secretária de Promoção Social, Maria da Graça Porto, tenta uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para profissionalizar a produção das mulheres da costeira e promover a emancipação das famílias. Em alguns casos, relata Izabela Dantas, a emancipação já está ocorrendo. “Algumas mulheres de Calhaus já se organizaram e foram, elas mesmas, buscar compradores. Produzem colchas de retalhos e revendem para lojas em São Paulo e outros estados”, comemora.
Mais do que o incremento financeiro, Izabela destaca a importância dos projetos de geração de renda para a própria estrutura da comunidade. “Quando você tem a renda na casa, você se emancipa pessoalmente. O indivíduo ganha autoestima, melhora a casa, o entorno, constrói seu banheiro e aí diminuem as doenças, de bicho-de-pé até icterícia”, explica. “O vizinho vê o progresso e quer participar. Então o impacto social é forte”, conclui.
Valéria Feitoza
(61) 3433-1070
Ascom MDS
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