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domingo, 31 de julho de 2011

Tratando o Alzheimeir dentro de casa

Dicas, cuidados e as melhores formas de lidar com o idoso que sofre com a doença e aliviar o estresse do cuidador
Tratando o Alzheimeir dentro de casa
O Alzheimer é uma doença degenerativa que envolve a perda gradativa de diversas capacidades importantes para o ser humano, como linguagem, memória, cálculos e julgamento, planejamento e organização e, posteriormente, funções motoras.
Os indivíduos com a doença precisam intensamente do auxílio de cuidadores, sejam eles da família ou profissionais contratados. Em ambos casos, o cotidiano destas pessoas é envolvido pelas necessidades integrais do idoso e, não raro, vivem em um dia a dia extremamente cansativo, que pode culminar em estados de puro estresse físico e emocional.
Para auxiliar familiares e cuidadores, identificamos com os profissionais do Residencial Israelita Albert Einstein (RIAE) – que atendem idosos com a doença – dicas práticas de como estimular a autonomia dos pacientes por mais tempo e de como facilitar a vida de quem acompanha esses indivíduos.
Antes da relação de dicas, leia um resumo das três principais fases da doença (que geralmente atinge os últimos 10 ou 15 anos de vida):
  • 1ª fase/Diagnóstico:
    O indivíduo passa a ter lapsos de memória e perda da noção de quantidade (uma nota de R$100 pode ser usada no lugar da de R$10, por exemplo).
  • 2ª fase/Moderada:
    A pessoa necessita de supervisão para tarefas rotineiras e, geralmente, um acompanhante para passeios fora de casa. Nesta fase ele pode desaprender o significado do farol vermelho, por exemplo, por isso é recomendado que não dirija mais.
  • 3ª fase/Grave:
    Está é a fase da dependência total para atividades como vestir, comer e usar o banheiro, e o paciente pode apresentar perda de linguagem e alucinações.
Vamos às dicas:

Planejamento

A primeira indicação, para a fase do diagnóstico, é procurar entender a doença e o seu desenvolvimento com o passar do tempo. Como é um processo praticamente irreversível, esse conhecimento pode auxiliar a família a criar um plano de ação. Por exemplo: vamos contratar um profissional em algum momento? Quando assumir as finanças do paciente?

Relação idoso x cuidador

O cuidador deve tentar deixar o paciente ativo, pelo tempo que for possível, em qualquer atividade. Tentar ajudá-lo apenas com o que ele não consegue realizar sozinho, e fazer apenas uma coisa de cada vez. Quando falar com o idoso, esteja presente, olhando nos olhos – isso facilitará a compreensão.
Para cuidadores profissionais, cuja fisionomia o idoso tem ainda mais dificuldade de memorizar, a indicação é sempre se apresentar todos os dias, dizendo o próprio nome e explicando que o seu papel é estar ali para auxiliá-lo.
Outra dica é não infantilizar o idoso com frases e modos de falar utilizados com crianças. Eles podem ficar constrangidos e irritados.

Comportamento

Geralmente, a doença acentua características de comportamento comuns ao indivíduo ao longo da vida. Espere de indivíduos que são agressivos, que ajam com maior agressividade – principalmente na fase em que percebem estar perdendo o controle das ações. Já as pessoas mais caladas, por exemplo, tendem a ficar ainda mais introvertidas.

Rotina

Introduzir novas tarefas a um paciente com Alzheimer é mais difícil. O ideal é realizar atividades semelhantes às que ele já fazia. Uma rotina que o paciente goste consegue deixá-lo ativo e engajado, com independência e autonomia por mais tempo.

Alimentação

Dê preferência a locais tranquilos e iluminados e use cores contrastantes entre o prato e a toalha de mesa – isso irá ajudá-lo na visualização dos alimentos.
Tome cuidado com os talheres. Prefira facas sem serra e, caso o idoso tenha tendência à agressividade e queira espetar a si ou aos outros, utilize colher ao invés de garfo.

Disposição de objetos

Manter os objetos da casa sempre no mesmo lugar ajuda o paciente a localizá-los. Lembre-se de que toda nova informação será mais difícil para ele reter.
Por medida de segurança, peças decorativas que simulem outros objetos não são uma boa ideia. Frutas de cera, por exemplo, podem confundir o idoso, que tentará comê-las.

Sinalização em casa

Na fase em que o idoso começa a perder a noção espacial (mas ainda assim consegue ler), utilize sinalizadores nas paredes, como setas indicando onde fica o banheiro ou a cozinha, isso ajuda a localização dentro da casa.

Noção de dias e meses

Pacientes com Alzheimer vão perdendo gradativamente a noção de tempo. Deixar um calendário próximo e ir marcando a passagem dos dias junto com ele ajuda no entendimento da passagem de dias e meses.

Memória

Álbuns de fotos são ótimos para o paciente lembrar sua própria história e das pessoas que já passaram por sua vida.
Ouvir músicas "da sua época", também traz memórias e emoções importantes. É uma ótima maneira de ativar a mente.

Planejar o dia

Na primeira fase, quando o idoso ainda é independente, escreva as atividades que serão realizadas no dia e leia junto com ele. É uma maneira de oferecer um senso de organização e de estimulá-lo a permanecer atento às suas atividades.

No fogão

Para a fase em que o idoso estiver perdendo a noção de tempo, mas quiser cozinhar, ensine-o a criar o hábito de colocar um despertador para avisá-lo quando a comida estiver pronta. A repetição (usar sempre o despertador) pode criar esse hábito.

Estimular o raciocínio

Jogos de caça-palavras, leitura de jornais, livros e revistas, por exemplo, são bons estímulos, mas sempre deve ser considerado o nível intelectual que o paciente já possuía. Qualquer esforço desnecessário tende a dificultar a ação.

O banho

Adapte o banheiro às necessidades do idoso. Se utilizar uma cadeira, atente-se à segurança e ao risco de escorregamento. Existem cadeiras específicas para o banheiro (chuveiro ou vaso). Barras de apoio também são uma boa opção.
Se o idoso for muito agitado, uma boa dica é começar o banho pelo pé. É menos agressivo do que jogar água diretamente em seu rosto.

Alucinações

Nas fases mais avançadas da doença, alucinações visuais ou auditivas podem ser comuns. Não confronte ou tente convencê-lo do contrário – o paciente realmente está vendo ou ouvindo o que relata. O importante é acolhê-lo, escutar e tentar mudar de assunto.

Objetividade

Seja objetivo ao falar. Frases curtas são mais fáceis de serem compreendidas.
Dê opções simples. Ao invés de deixá-lo optar por várias peças no guarda-roupa, diga algo como: "você quer vestir a blusa amarela ou a vermelha?" Quanto mais opções de escolha, mais facilmente o idoso irá se confundir.
Avisar sempre o que vai ser feito em seguida desperta o idoso para a ação: "agora vamos comer, agora vamos tomar banho" etc.

Organização

Armários e guarda-roupas bem organizados ajudam o idoso a entender o lugar de cada coisa e a encontrar objetos sem auxílio.

Sono tranquilo

Na hora de ir pra cama, estabeleça uma rotina. Dormir e acordar sempre no mesmo horário ajuda o indivíduo com Alzheimer a ter mais noção do tempo e da passagem dos dias.

Escovar os dentes

A escovação de dentes deve ser supervisionada para que o idoso não se engane e coma o creme dental ou, por exemplo, escove sem o creme. Deixe que ele faça sozinho até o momento em que precisar de ajuda.

Tudo por ele

Não passar da fase de supervisionar diretamente para a fase de fazer tudo pelo paciente. Nesse meio tempo, o ideal é sempre "fazer junto", para que ele mantenha sua autonomia por mais tempo.

O descanso do cuidador

O cuidador precisa, e merece, um tempo para cuidar de si e para realizar atividades de lazer que aliviem sua tensão. É importante criar uma rotina pessoal – para não deixar que a do idoso tome conta de todo o seu dia – e procurar algo que dê prazer e relaxamento, o que, aliás, trará de volta o ânimo e a calma necessários para prosseguir com os cuidados ao paciente.
"Se for o caso, na hora de contratar um cuidador profissional, o importante não é que ele seja obrigatoriamente um enfermeiro ou que tenha vasta experiência, mas simplesmente alguém que consiga ajudar a família a cuidar do idoso, liberando um pouco os familiares para olharem mais para si", indica o neurologista do Einstein, Dr. Ivan Okamoto.
"Dividir as tarefas com outras pessoas da família, se for possível, também é uma boa opção", afirma o médico.
Fonte: Sabrina Marcondes Teixeira, supervisora dos cuidadores do Residencial Israelita Albert Einstein.

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